sábado, 12 de junho de 2010

Anu-cia-ndo


Anunciai
Minha despedida
Desse mundo
De ilusões
Já vou
Montada
No vento
Com a rapidez
De um furacão
Senhora
Obrigada por me deixar
Tecerei com as nuvens
O meu sonhar
Visitarei as árvores
Do tempo
Meus descontentamentos

...

Me alimentarei
Da saudade
Lembranças fumadas
Com sabor de libertação
Risos e Dor
Meu templo
No alto Do Universo
Onde respiram Amor

Jana Tavares

Ar Roz


Arroz do casamento
Não é o mesmo da panela
Da panela
Representa fome
A palidez
Enquanto o fogo
Suga a água
E deixa o arroz
Cansado
A noiva sai da Igreja
Com seu novo amado
O arroz esperará
Na panela
Não tem outra solução
Nem consegue
Mais chorar
Já acabou a emoção
A panela vai ficando funda
Funda
Funda
Afunda
Como a sua solidão

Jana Tavares

Bou-se

Acabou o pão
Só restou
Uma gota da conversa
E tudo que não presta
Foi pro lixo da ilusão

Acabou o vinho
A taça suja
De solidão
E só restou
O desalinho
Que ficou
Meu coração

Acabou o “nós”
Acabou o “vós”
Acabou a voz
Que gritava
E nessa madrugada
Acabou-se tudo
Até o nada

Jana Tavares

Raízes

Por mais que multipliquemos
As raízes vitais
Elas nunca saem do lugar
Só crescem
Dentro do espaço disponibilizado
Passam por elas
Curvas
E o vértice
As divide
Vértice
Ponto em que
Há a centralização do saber
Achar os seus valores
Nem sempre é fácil
O centro
É sempre polêmico
E quem chega ao centro
Descobre a lei
Que rege a sua função

Jana Tavares